Ed. 03 - Entrevista Francisco do Espírito Santo Neto

por Esterlita Moreira
Entrevista 1



“As ‘dores da alma’ são as educadoras ou instrutoras para vencermos bloqueios e obstáculos íntimos”. (Hammed)



O escritor mediúnico e palestrante Francisco do Espírito Santo Neto, conhecido como Quico, nasceu em Catanduva, cidade do interior de São Paulo. Há mais de 25 anos, fundou a Sociedade Espírita Boa Nova. Dentre os trabalhos que dirige, pode-se citar a Creche Boa Nova, o Lar Esperança, a Boa Nova Editora e Distribuidora de livros espíritas. Além disso, trabalha ativamente na divulgação do espiritismo, por meio da psicografia como também da realização de palestras no Brasil e no exterior.
Ele é autor mediúnico de várias obras que tratam do comportamento humano, como Renovando Atitudes, Dores da Alma, Prazeres da Alma, Imensidão dos Sentidos e a mais recente La Fontaine e o comportamento humano; todas ditadas pelo espírito Hammed. E na entrevista abaixo, concedida a Esterlita Moreira, diretora da área filantrópica do IEE, você conhecerá um pouco mais sobre as ideias e trabalhos sociais de Quico.


Esterlita – Você iniciou seus estudos no espiritismo sob orientações de Diomar Ziviani, ex-presidente do Centro Espírita Amor e Caridade, da cidade de Catanduva. Como foi isso?


Quico – Diomar Ziviani sempre foi um grande amigo. Acompanhava o trabalho realizado por ele e tinha muita admiração e respeito. Em 1973, tive contato com O Livro dos Espírito de Allan Kardec e Voltei do Irmão Jacob. Essas obras me foram apresentadas por Diomar, que me orientou na questão espírita. Só posso agradecer por tanta atenção, pois aprendi muito com ele e com a orientação de seus amigos espirituais. Nessa época, eu já tinha algumas manifestações mediúnicas, mas, somente através do estudo e de suas explicações doutrinárias, comecei a entender e administrar minha mediunidade.


Como foi o início de seus trabalhos no campo da psicografia?

As manifestações mediúnicas sempre estiveram presentes em minha vida. Desde muito pequeno já ouvia barulhos estranhos e conversava com pessoas que só eu via. Já administrava minhas faculdades mediúnicas por meio da psicofonia, quando em novembro de 1974 recebi minha primeira página psicografada que tinha como título “O Valor da Oração”. Ela era assinada por Ivan de Albuquerque, espírito até então completamente desconhecido. Acredito que a psicografia requer muito estudo. É muito bom ser um instrumento de comunicação entre esse mundo e o espiritual.


Você psicografa por diversos espíritos. Como é sua relação com eles?

É uma relação de confiança no que eles dizem e de auto-observação, aliada ao senso crítico. Em tantos anos de tarefas mediúnicas, recebi centenas de mensagens. Para isso, realizo um exercício de flexibilidade que objetiva fazer que eu seja um elemento mais afinado com os espíritos e capaz de adquirir boa receptividade, para que as mensagens sejam transmitidas fielmente. Tenho consciência da confiança depositada em meu trabalho como médium. As pessoas que me procuram estão passando por momentos difíceis e precisam ouvir as palavras apropriadas, para que não haja uma interpretação errônea das mensagens. 


E como você vê sua relação de trabalho com o espírito Hammed? O que ele representa para você?

Meu primeiro contato com Hammed aconteceu no final de 1972, através da psicofonia semi-inconsciente. Depois soube que temos vínculos espirituais muito fortes de diversas experiências que vivemos juntos nos muitos séculos.  Nossa relação de trabalho é ótima! Os temas dos livros são escolhidos por nós, em parceria. Normalmente Hammed traz o esqueleto do livro e escolhe os capítulos e os itens a serem comentados. No caso do Renovando Atitudes, por exemplo, peguei o Evangelho e fui lendo. Ele ia me dizendo e através da audição eu anotava os textos escolhidos. Portanto, é ele quem define os capítulos e itens. Eu os coloco em uma folha em branco e ele começa a tecer os comentários através da psico­grafia. Hammed está sempre presente, seja nas reuniões públicas de psico­grafia ou por meio da psicofonia nas reuniões de quinta-feira. Acho fantásticos os títulos escolhidos por Ham­med, porque ele tem um grande poder de síntese e uma forma muito original de escrever. De maneira geral, Hammed tem sido para mim não somente um mestre lúcido e lógico, mas também um amigo dedicado e compreensivo.


Em que época viveu Hammed?

Antes da era cristã, Hammed e eu já havíamos vivido várias vezes junto no Oriente, inclusive na Índia. Na França do século 17, ele participou do movimento jansenista, precisamente no convento de Port Royal des Champs, nas cercanias de Paris, como religioso e médico. Hammed é um nome de origem árabe e adotado como pseudônimo. Ele costuma mostrar-se espiritualmente, ora com roupagem característica de um indiano, ora com trajes da época do rei francês Luís XIII.


A obra mediúnica Renovando Atitudes, pelo espírito de Hammed, nos apresenta um caminho para a nossa reforma íntima. Ligando esse tema com sua outra obra Dores da Alma, podemos concluir que há uma preocupação comum com o comportamento humano. Como vê isso?  

Existe essa preocupação sim. Particularmente, eu acredito que o ser humano está preparado para mudar e melhorar sempre, basta ter fé e determinação. Esses livros apresentam propostas simples para que essa reforma íntima aconteça. Fazer o bem, praticar a caridade e pensar mais no próximo são alguns pontos que fariam qualquer ser humano evoluir espiritualmente. Estamos no terceiro milênio e essa evolução é uma realidade e, aliás, é impossível falar sobre reforma íntima sem refletir sobre o autoconhecimento e o comportamento humano.


A maledicência, o rancor, a inveja e o preconceito ficam impregnados na alma e atrapalham diretamente a nossa vida

As nossas dores da alma podem nos levar a ter transtornos graves. O que você recomendaria para alguém com esse problema?


Recomendo os bons pensamentos, o estudo e a caridade – não só como ajuda ao próximo, mas como um estado de alma. A maledicência, o rancor, a inveja e o preconceito, por exemplo, ficam impregnados na alma e atrapalham diretamente a nossa vida. São sentimentos tão ruins que afetam a saúde espiritual e se manifestam através de doenças físicas. Por isso, a melhor coisa é praticar o bem, ou seja, fazer o bem que nos faz bem, nos dá capacidade de auxiliar os outros.


Conte-nos um pouco sobre os trabalhos desenvolvidos na área filantrópica pelo grupo espírita Boa Nova onde você atua.

Através do Instituto Beneficente Boa Nova desenvolvemos uma série de trabalhos em Catanduva. Temos uma creche, que abriga 135 crianças; o Lar Esperança, que atende 12 senhoras carentes em regime de internato; o posto médico-odontológico, além de ações voltadas para o atendimento sócio-cultural e para grupo de mães e gestantes. Hoje, a entidade que a princípio se acomodava numa pequena sala, ocupa dois quarteirões na periferia de Catanduva. Inúmeros voluntários estão envolvidos nesse trabalho doutrinário e assistencial.


Sabendo que todos nós fomos criados para sermos felizes, como você vê o impacto das dores da alma em relação à busca pela felicidade?

Vejo que todos esses infortúnios são necessários para a evolução espiritual e, consequentemente, para a nossa felicidade. Como vivemos em um mundo de provas e expiações, é natural que enfrentemos dificuldades. Superando as dores de nossa alma, vamos alcançar a paz de espírito e esse é o melhor caminho para a felicidade. Aliás, as dores nos levam a refletir, reconsiderar, ressignificar. Enfim, mudar nosso caminho.

Muitas pessoas vêm à casa espírita para aliviar pontualmente uma dor da alma através do passe. Que mais você recomendaria a essas pessoas que chegam a nós nessas condições?


Assim como você disse, realmente o passe é um alívio. No entanto, as pessoas vão sentir uma sensação de bem estar naquele momento, mas se estiverem enfrentando problemas íntimos, a frequência em uma casa espírita é necessária. Mesmo as pessoas que momentaneamente não enfrentam nenhum tipo de problema, ter uma religião é fundamental. É aquela velha máxima: orai e vigiai.

No livro Dores da Alma, o leitor é convidado a uma grande reflexão. Após a tomada de consciência da situação em que se vive, quais os próximos passos a serem dados?


Acredito que o primeiro passo realmente seja reconhecer nossos pontos fracos. Depois de fazer isso, devemos tentar melhorar. Se tenho algum desafeto, vou tentar perdoá-lo; se gosto de cuidar da vida dos outros, vou tentar cuidar somente da minha; se tenho inveja de alguém, vou tomar essa pessoa como exemplo para melhorar também; se tenho preconceitos, vou tentar ser mais maleável. Esse é o caminho.

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