Ed. 08 – Capa – Educação, família e espiritismo

por Irene Wenzel Gaviolle

Nascer em meio aos semelhantes, em uma família, é necessidade de todos os seres vivos:

a) Vegetais: diz-nos André Luiz que “as árvores frutíferas produzem mais, quando estão entre as da mesma espécie”;

b) Animais irracionais: sobrevivem graças às famílias (As sociedades animais – Remy Chauvin). O golfinho, quando atacado por tubarão, produz um ruído especial que atrai seus familiares, o tubarão perde a luta e foge;

c) Reino Hominal: O clã, a tribo, sempre foi importante para o homem em suas primeiras expressões.

Em todas as espécies a família é, incontestavelmente, uma célula protetora e educadora. Nela a criatura aprende a ampliar responsabilidades, a multiplicar sentimentos, a valorizar a fraternidade, a desenvolver o senso de proteção, a pensar em conjunto, a perder a individualidade e a banir a solidão. Sem qualquer dúvida, trata-se da base social.

 

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Jamais podemos pensar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária, sem contarmos com a indispensável estruturação da família. Quando encontramos no grupo social indivíduos que se apresentam de forma desequilibrada, com comportamentos fora dos padrões de decência e dignidade que se espera, certamente a origem das distorções, na maioria dos casos, tem seu início na família em desalinho.

Para reforçar estas palavras Kardec no Livro dos Espíritos, na pergunta 208, leva-nos à seguinte reflexão: - O espírito dos pais exerce influência sobre o filho após o nascimento? - Exerce e muita. Os pais tem a missão de desenvolver o espírito do filho através da educação; se falham, serão culpados.

Não há também como os pais exercitarem sua função sem associarmos a família com a educação.

Kardec, na pergunta 685, aponta a educação como o meio mais eficaz de transformação de uma sociedade, diz ele: “há um elemento que não se ponderou o bastante, e sem a qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquele que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos”.

Segundo estes conceitos de Kardec, podemos pensar que há hábitos de três naturezas diferentes: físicos, intelectuais e morais. Os primeiros são os que modificam mais particularmente nossa constituição animal; os segundos consistem na posse mais ou menos perfeita de uma ciência. Assim por exemplo, aquele que está muito familiarizado com uma língua, a fala sem esforço e sem pensar; aquele que possui perfeitamente a matemática faz seus cálculos sem dificuldades. É isto que se pode chamar de ter o hábito de uma ciência.

Por fim, os hábitos morais são aqueles que nos levam a fazer qualquer coisa de bom ou de mau. A fonte desses últimos hábitos se acha nas impressões longamente ressentidas ou percebidas na infância.

No entanto, em se tratando da educação da infância, é necessário diferenciar educação de instrução. Educar, como objetivo primeiro, significa moldar o caráter de alguém, prepará-lo para viver dentro dos padrões da moralidade, sendo um verdadeiro homem de bem, que consiga eleger o bem estar da criatura humana, onde ela estiver. Já instruir será ministrar conhecimentos, oferecer experiências acadêmicas ou transmitir cultura.

Educar é tarefa exclusiva da família, enquanto a instrução tanto pode ser oferecida no lar, na escola ou na vivência social.

Refletindo sobre o processo educativo, principalmente dentro dos postulados espíritas, a educação é sempre uma relação de indivíduo para indivíduo onde o amor deve estar sempre presente. O amor verdadeiro é sempre educativo e a educação verdadeira é sempre um ato de amor. O objetivo da educação é ajudar o outro a evoluir. Essa meta está em consonância com a finalidade da vida universal, pois tudo evolui para a perfeição. Aqui na Terra, reencarnamos para dar mais um passo nesta jornada infinita da evolução.

Quando um bebê nasce o dever de todos os membros da família é auxiliá-lo na sua sociabilidade. O que vemos, muitas vezes, é a estimulação do egoísmo. Se ele faz mal criações, todos acham uma graça. Se bate, exige, não empresta os brinquedos diz-se que ele possui uma personalidade forte. Esse é um grande passo para se tornar um adolescente difícil, exigente e um adulto insuportável.

Nunca dizer NÃO a uma criança ou jovem é torná-los inaptos para a vida no mundo. É importante entendermos que devemos ter liberdade com responsabilidade. Segundo o Livro dos Espíritos, os espíritos nos esclarecem que “o homem tem a sua liberdade aumentada, à medida que se torna mais consciente e responsável”.

Portanto, disciplina, horário, renúncia, tolerância, trabalho, fazem parte da vida do indivíduo. É necessário ensinar também à criança a importância da grande família espiritual. Não mais “o meu”, “o teu”, “a minha família”, “a tua família”, mas sim a concepção de uma nova humanidade, sem barreiras geográficas.

Quanto ao adolescente em especial, ele vive o conflito de não ser mais criança e não tem estrutura para os jogos da vida adulta. Muitos deles, fascinados pelas novas oportunidades, atiram-se a novos prazeres, entregando-se às sensações do corpo. Outros vivenciando muito medo e timidez revelam-se incapazes de assumir responsabilidades, desenvolvendo quadros de depressão, melancolia e irritabilidade.

Assim, tanto a criança quanto o adolescente precisam ser amados e compreendidos, a fim de possuírem uma auto-imagem positiva, isto é, serem aceitos, respeitados e valorizados. Precisam ser educados com amor, energia, disciplina e também limites e, o mais importante, que aprendam a arte do bem viver, através do evangelho de Jesus.

Não podemos nos esquecer que é na família, e principalmente na relação com nossos filhos, que nosso comportamento, que nosso exemplo, será observado como fonte de aprendizado. Somos, sim, pontos de referência, modelos para ações, reações e comportamentos futuros. No entanto, devemos ser exemplo e não críticos.

A crítica contundente ou mordaz do que é certo ou errado, sempre ganha ares de batalha. Mesmo sendo procedente, nunca é bem aceita, pode, sim, ser motivo de distanciamento, de sorte a eliminar oportunidades de orientação. Devemos compreender para poder ajudar. Compreender significa perceber as razões, motivações e vontades alheias, sem alterar-lhe a essência.

Devemos compreender que cada qual tem seus motivos, cada qual tem sua herança espiritual e cada qual tem sua necessidade e hora de aprender.

Os filhos são espíritos que nos compromissamos a acolher no intuito de ampará-los e sustentar na nova existência que terão de enfrentar. São antes de tudo, filhos de Deus, confiados momentaneamente a nossa guarda e proteção. São nossos filhos pelo parentesco corporal ou pelos laços de sangue, em uma dada existência, mas revezamos com eles os papéis em outras vidas.

No período em que são suscetíveis de educação, cabe-nos a responsabilidade de lhes transmitir os valores que orientarão suas vidas. Não nos cabe o direito de pretender torná-los iguais a nós, pois somos orientadores e influenciadores, não somos donos destas individualidades.

Nossos pais são nossas referências de valores, também transitoriamente colocados neste papel. A maneira como tratamos nossos pais, a importância e consideração que lhes dispensamos, indicará para nossos filhos como deveremos ser tratados. Mais uma vez, não será o que dissermos, mas o que fizermos e exemplificarmos que terá valor e será seguido. É claro que os pais não conseguem transformar seus filhos apenas por suas palavras, ensinamentos e atitudes, mas o dever é trabalhar com os que estão sob sua responsabilidade para orientar, despertar os bons sentimentos e levar à reavaliação de suas opções em encarnações anteriores. Esse trabalho está descrito poeticamente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 14 item 9: “desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou mais que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam os germes desses vícios, e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore”. Essa receita mostra um caminho, mas não é absoluta nem nos exime de insucessos. Ela nos alerta sobre a nossa responsabilidade e nos consola ao nos dar a garantia de que quando fazemos tudo para o adiantamento moral de nossos filhos e não conseguimos êxito, não temos do que lamentar, nossa consciência estará tranquila. Além disso, poderemos, no futuro, em outra existência, concluir a obra começada, e, “um dia, o filho ingrato recompensará seus pais com seu amor”. A família é a mais importante fonte de realização e felicidade do homem, mas não raro é também motivos de sofrimentos prolongados e até razão de tragédias. Cabe ao espírita discernir que tanto a sua família como a sociedade da qual ela faz parte, é o meio para o qual ele foi chamado a viver e contribuir. Conforme o estágio de trabalho e evolução de cada grupo familiar e, conforme a evolução de seus membros, o intercâmbio de experiências e aprendizado pode ser muito difícil. Todavia, é tarefa a ser enfrentada.

Não podemos nos esquecer que a função da família espírita é desenvolver, em casa, sob as claridades do evangelho, todas as boas qualidades, às quais serão postas em prática na sociedade. A sociedade, todos sabem, é a somatória do individual. Todos, queiramos ou não, influenciamos e somos influenciados o tempo todo. Juntos formamos e construímos a sociedade e o mundo em que estamos inseridos. A isso soma-se o fato de que qualquer pessoa sabe que a família é a base da sociedade, pois o grupo familiar é a primeira sociedade com que todos tomamos contato. A esses conceitos gerais, agregam-se os conhecimentos e as teorias particulares, como aqueles que nos chegam via doutrina espírita e que nos mostram que a família é nosso principal ponto de reajuste e de realinhamento e, portanto, é sumamente importante em nosso processo evolutivo. Sabemos também que nosso comportamento em família será extrapolado para nossa relação com a sociedade, os colegas de escola, de trabalho, de casa espírita. Desse modo, fica fácil perceber a imensa importância do grupo familiar em nossa formação a cada encarnação e a isso se vincula a responsabilidade dos pais no encaminhamento de seus filhos. Para ajudar os pais a atingirem seus objetivos educacionais, a educação espírita para a infância e juventude vem facilitar este processo. É a partir das aulas de espiritismo e do convívio com os professores, outras crianças e jovens, da prática do evangelho do mestre Jesus, que o ser em formação vai incorporar uma visão de si mesmo, do significado da vida, que lhe permita o discernimento às diversas situações que terá de enfrentar.

Para tanto, a criança e o jovem devem contar com a participação dos pais, levando-os à casa espírita a fim de que possam ter o aprendizado dos conceitos doutrinários que só podem ser feitos por meio da lógica e da razão. Vamos, pois, refletir maduramente sobre a importância da família e das responsabilidades que temos ao receber em nossos lares espíritos reencarnados, pois ser pai ou mãe é tarefa das mais importantes na Terra, em realidade é uma missão.

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