Ed-16-Por dentro do IEE

por Lucia Andrade

PROF. HERCULANO PIRES: “O educando é um reencarnado”

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“O ser humano, em todas as épocas e em toda parte, foi sempre o mesmo. Sua constituição física, sua estrutura psicológica, sua consciência são iguais em todos os seres humanos. Essa igualdade fundamental e essencial é o que caracteriza o homem”. Essas são palavras constantes do livro Pedagogia Espírita de José Herculano Pires.

Para Herculano, a educação é universal e seus objetivos são os mesmos em todas as épocas e em todas as latitudes da Terra.

Na obra “História da Filosofia no Brasil”, o autor Jorge Jaime, afirma que a história da

filosofia brasileira já possui o filósofo do espiritismo, e esse foi, indiscutivelmente,

José Herculano Pires, embora seja também considerado “o pai da educação espírita”,

por ter sentenciado: “o educando é um reencarnado”. Na verdade, suas atividades e contribuições se estendem por diversas áreas, dificilmente resumíveis num rápido estudo.

Herculano lançou sua primeira obra aos 16 anos, Sonhos Azuis, um livro de contos. Profissionalmente, a área em que mais atuou foi a de jornalista e trabalhou até a sua aposentadoria nos Diários Associados, onde exerceu diversas funções, inclusive a de

Redator.

Durante 20 anos manteve uma coluna diária sobre espiritismo nos Diários Associados, com o pseudônimo de Irmão Saulo. Durante quatro anos manteve no mesmo jornal uma coluna em parceria com Chico Xavier sob o título "Chico Xavier pede Licença".

Destacou-se como cronista parlamentar; representante civil da Presidência da República, em São Paulo no governo de Jânio Quadros e presidiu o Sindicato dos Jornalistas (1957 a 1959).

Quanto à sua vida espírita, ele relata: “Nasci em família católica e permaneci assim até os 15 anos. Quis opor-me à velha geração e negar os seus valores. Cheguei a ser materialista. Por fim, tocado por certos fenômenos que ocorriam, não comigo, mas com pessoas de minha família, percebi de novo a realidade de algo transcendente na natureza humana. Tornei-me teosofista. Não queria saber do Espiritismo, que por minha formação considerava um amontoado incoerente de superstições. Um dia, um amigo, Dadício de Oliveira Baulet me desafiou a ler “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec. A contragosto aceitei o desafio e o estou lendo e estudando até hoje. Tornei-me espírita pelo raciocínio. Isso ocorreu em 1936, eu tinha então 22 anos.”

Defendia a moral espírita clara, racional e isenta de hipocrisias, que busca o resgate do homem natural: “não se identifica o ser moral pela mansidão da voz, pelos gestos delicados e atitudes de santidade artificial. A herança divina do homem é natural e se desenvolve nas duras batalhas da carne. O ser moral só se distingue dos outros pela retidão de uma conduta escrupulosa e segura, não exagerada ou fingida, mas comedida e firme. O ser moral se define como tal pelo seu equilíbrio na balança das atitudes.”

A “Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires” foi criada em 1970 com a intenção de homenagear um casal que sempre lutou na defesa e divulgação da doutrina espírita. Maria Virgínia era esposa de Herculano Pires e filha de pais espíritas praticantes, portanto, sempre esteve ao lado de Herculano no trabalho da verdadeira doutrina espírita.

Herculano compreendia as faculdades mediúnicas do homem de maneira abrangente.

Seguindo as pegadas de Kardec, para quem, pela inspiração, “pode-se dizer que todos

são médiuns”, o filósofo espírita brasileiro entende que: “a vida é uma permanente

manifestação mediúnica do Espírito que, por ela, se projeta no plano sensível ou material”.

Centra-se assim, no educando, qualquer proposta educacional espírita: “a criança é o ser que se projetou na existência, furando a barreira da morte para atingir a transcendência. Vem ao mundo com sua maleta invisível, carregada de suas aquisições anteriores em vidas sucessivas”.

A sua linha de pensamento era forte e racional, combatendo os desvios e mistificações, sendo a maior característica do conjunto de suas obras a luta por demonstrar a consistência do pensamento espírita e defender a valorização dos aspectos crítico e investigativo originalmente propostos por Kardec.

Defendia o conceito de pureza doutrinária, segundo o qual era preciso preservar a doutrina de todo tipo de influência mística, esotérica ou meramente cultural religiosa.

Criou e dirigiu a revista Educação Espírita, que a despeito do pequeno número de edições, mantém-se ainda hoje como uma das mais importantes contribuições ao tema na nossa literatura.

Em 1949, Herculano fez parte do recém-criado Departamento de Educação da USE, onde projetou e convocou o I Congresso Educacional Espírita Paulista, um congresso pioneiro no Brasil. Fundou o Comando Jornalístico do Diário da Noite, sendo que em 19 de abril de 1949, a primeira série de reportagens foi publicada: “Há ou não fenômenos espíritas em São Paulo?”.

No Instituto Espírita de Educação, em São Paulo, foi secretário da 1ª diretoria, eleita em 1949, onde eram realizadas experiências de renovação educacional, instituindo um sistema experimental de ensino integrado que era divulgado pelo jornal O UNIVERSITÁRIO ESPÍRITA (1955), cujos primeiros trabalhos de Pedagogia Espírita foram de nossa autoria.

Em meio às múltiplas militâncias de Herculano, destaca-se o seu engajamento na Campanha da Defesa da Escola Pública, no virar da década de 50 a 60. Herculano defendia a seguinte posição: “não podemos ter educação sem religião”.

Inaugurou o primeiro curso sobre Pedagogia Espírita no mundo (ministrado em 1970, no educandário Pestalozzi, em Franca, a convite de Tomás Novelino). Fundou e dirigiu a Editora Paidéia (1976).

Expunha as idéias que vivia existencialmente e soube também exprimi-las de maneira poética, convocando os espíritas a assumirem uma posição ativa e engajada neste mundo: “a mente humana se abre neste século para o conhecimento racional dos problemas espirituais. Chegou o momento do Consolador prometido pelo Cristo. Os pais espíritas precisam compreender isso e iniciar sem temor os seus filhos na doutrina que lhes garantirá tranquilidade e confiança na vida nova que iniciam”

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