Ed.20–Matéria especial

Aldo Colasurdo

Adolfo Bezerra de Menezes, o Kardec brasileiro

Na atual cidade de Solonópole no Ceará, em 29 de agosto de 1831 , o Tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes recebeu em seu lar mais um herdeiro: Adolfo Bezerra de Menezes. Mais tarde, dirigindo-se a este filho que sonhava ser médico, desculpou-se por não ter condições financeiras de atendê-lo. Sem se abalar, aos 19 anos, o jovem despediu-se do lar paterno e com reduzidos recursos partiu para o Rio de Janeiro.

Para custear o curso universitário e se manter, dava aulas e estudava em bi- bliotecas públicas. Em 1856, doutorou-se em Medicina. Em 1858, foi nomeado Cirurgião-Tenente. No mesmo ano casou-se com Maria Cândida de Lacerda. Esta, a quem muito amou, faleceu em 1863, deixando-lhe dois filhinhos, um com três anos e outro com um. Posteriormente cessaria a viuvez casando-se com Cândida Augusta irmã de sua falecida esposa, e foi pai de sete filhos.

Várias lendas têm surgido em torno da vida de Bezerra muitas delas plausíveis, pois encontram certo apoio no espiritismo. É o que nos conta o saudoso líder espírita Leopoldo Cirne: no começo, o emigrado pobre do Ceará, lecionava humanidades para pagar os estudos e a sua própria subsistência. Um dia, sentia-se muito preocupado com sua situação quando bateram em sua porta. Era um desconhecido que vinha procurá-lo; depois de ajustar uma série de lições insistiu em pagar o custo combinado, antecipadamente. Confortado Bezerra solveu seus problemas. As aulas seriam iniciadas o dia seguinte. Porem o estudante desconhecido não apareceu no dia seguinte e nunca mais tornou a aparecer ou dar notícias.

Em 1860, os moradores de São Cristovão, onde atendia a população humilde, solicitaram que os representasse na Câmara Municipal. Com esta intenção, o elegeram em 1861 e o reelegeram em 1864. Em 1867, foi sufragado Deputado Geral. No cargo público, suportou torrentes de injúrias. Posteriormente retirou-se da política, dedicando-se a iniciativas particulares como empresas de Estradas de Ferro.

Apreensivo com a situação, em 1876 retornou a política sendo eleito Presidente da Câmara Municipal. Preocupado com a pobreza, lutou ainda pelo direito da instrução pública. Mostrou-se contrário à escravidão. Suportou o desencarne de quatro filhos; o mais doloroso foi o de sua filha de 22 anos, dedicadíssima auxiliar, sob o qual declarou: “como chorar por ver partir um amado ente quando se sabe que este vai para o plano celeste?”; (esta, ao sentir chegada sua hora, com um sorriso nos lábios pediu a benção do pai e partiu para o céu).

O dia 16 de Agosto de 1886 tornou-se memorável no histórico de sua vida: em um grande salão, onde estavam reunidas cerca de 2 mil pessoas da sociedade; “o médico dos humildes” proclamou a sua adesão ao espiritismo. A partir de então o espiritismo no Brasil, ganhou novas forças. Escreveu mais de oito livros, além de artigos em jornais. Em 1889 e 1894 foi eleito presidente da Federação Espírita Brasileira e vice-presidente em 1890 e 1891.

Foi encontrar-se com a filha no Plano Celestial em 11 de abril de 1900. Seu cortejo fúnebre, com grande acompanhamento, encontrou no Cemitério São Francisco seu jazigo coberto de flores que mãos piedosas foram lá espargir. Médico hábil, atendia a todos, na maioria das vezes gratuitamente, e aos mais necessitados ainda fornecia recursos. Como médico foi competente e caridoso, como político trabalhou suportando ofensas e injúrias; desencarnando pobre mostrou sua honestidade sem ambição. Na França, ao saber de seu passamento, Léon Denis declarou: “quando tais homens deixam de existir, enluta-se não somente o Brasil, mas os espíritas de todo o mundo”.

Vem ganhando vulto a frase “Adolfo Bezerra de Menezes, o Allan Kardec Brasileiro”.

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